Como pássaros no paraíso de um tempo intemporal
somos dois pedaços de queijo Suíço
esburacados pelas cicatrizes desse mesmo tempo que nunca cicatrizou
fingimos que não queremos saber
mas somos feitos daquela massa frágil
esculpida por pequenos pedaços de quem deseja viver
assim voámos
por paraísos que mais ninguém encontra
entramos em portões que mais ninguém vê
o que sentimos é aquela montra
de quem quer escrever um livro mas não sabe muito bem como
e sem saber descobri-mo-nos
senti-mo-nos
fazemos o mundo girar
o tempo passar
a vida torna-se mais encantada
apesar de não sabermos nada
e sermos apenas dois pássaros que se encontraram por acaso
sabemos que cantar sozinhos não nos leva a lugar nenhum
porque descobrimos o encanto de cantar juntos
o prazer de fazermos o nosso ninho onde estivermos
mesmo estando longe um do outro
o nosso ninho parece ser o de dois pássaros
que a muito tempo descobriram o prazer de serem dois
num tempo demasiado rápido e avesso
sabemos que tudo tem um preço
nada nos é dado
nada nos é oferecido
é tudo muito trabalhado
é tudo merecido
clarifica-se tudo aquilo que precisa de ser clarificado
cantando juntos lado a lado
o paraíso é logo ali ao virar da esquina
onde um cego toca concertina
sem sentir falta da sua visão
porque toca com o coração
tal e qual nós cantamos no nosso paraíso
num tempo intemporal
porque tudo que eu preciso
já sei de cor e salteado
sem remorsos de qualquer pecado
o melhor é recolher-mo-nos
o nosso tempo espera-nos
será eterno como qualquer história de encantar
como qualquer amor que o tempo souber preservar
será cantado de bico em bico
por outros pássaros apaixonados
num paraíso construído por todos os condenados
que querem viver um amor imortal!!