É costume dizer que depois de um homem estar morto que se faça o que se quiser com o cadáver e que se diga o que se desejar do falecido, mas eu não quero que seja assim comigo, quero viver até aos 500 anos mais coisa menos coisa e quero que aperfeiçoem o Viagra para que eu possa fuder sem morrer do coração!!
Mas quando morrer não quero aquela lenga-lenga dos padres até porque não sou irmão deles e por essa data os meus irmão já terão morrido, não quero que salvem a minha alma porque como morto ou já estarei salvo, ou estarei completamente fudido.
Confesso que gosto daqueles funerais em que os descendentes, familiares e amigos falam de um pulpito diante do caixão que alberga o corpo morto e já a cheirar a decomposição, todos enaltecendo as qualidades do falecido e falando de uma perda irreparável.
É assim que eu quero o meu funeral e quero deixar um texto para que gravem na pedra do meu túmulo em que eu digo em primeira mão aquilo que fui e o que me tornei, pois acredito piamente que mesmo depois de morto poderei escrever a contar como é essa vida debaixo da terra sendo comido por larvas e outros bichinhos esfomeados.
Uma das condições para que as pessoas falem no meu velório é que digam sempre bem de mim, que não apareça ninguém a cobrar o dinheiro que lhe fiquei a dever, que não apareça nenhum marido que tenha apanhado a esposa a chorar por saber que a partir daquele momento nunca mais iria ser consolada como o era por mim, mas acima de tudo não quero que apareça ninguém a rezar pela minha alma é que a todos os funerais que fui vi uns quantos tolos a rezarem pela alma dos seus falecidos e até hoje eles não disseram nada nem se sabe se as suas almas foram salvas!!
O meu último desejo prende-se com o facto de querer ouvir mesmo depois de morto as boas qualidades da minha pessoa, nem que isso faça com que os oradores demorem mais de 5 horas a pensar numa qualidade, desejo que até eu poder aparecer e dizer que a história das virgens é verdadeira que me enterrem com as 7 mulheres a que eu tenho direito, é meu desejo que de tempos a tempos no meu túmulo coloquem um Assadinho, uma Feijoada á Transmontana, umas Tripas a Moda do Porto, uma Açorda Alentejana e que de tempos a tempos me levem um vinhinho verde do Minho e uma cervejinha preta!
É claro que vou morrer contrariado e sei que quando for enterrado mesmo depois de morto ao sentir aqueles bichinhos miseráveis a quererem alimentarem-se de mim vou ter um ataque de raiva e vou come-los até que não reste nenhum e por isso peço ao coveiro que não se assuste quando foi fazer a remição e não encontrar os ossos esperados mas um corpo morto mas alimentado!
Agora e finalmente desejo que coloquem este texto pequeno mas ilustrativo da minha vida na lápide do meu túmulo:
"Nasci da semente de um caralho pequeno
Cresci com o estigma de ter um pequeno caralho
Fiz-me homem competente e sereno
Porque a foda para mim sempre foi um trabalho
Aqueles a quem enganei
Aqueles que injuriei
Espero que já estejam mortos e comidos
Para nunca mais os ter nos meus ouvidos
Fui um grande homem que poucos apreciaram
Um grande escritor que poucos leram
Um grande artista que poucos conheceram
Que se fodam todos
Deveriam estar mortos muito antes de mim!!"
Em nome do Pai que não tive, do Espírito que nunca vi
Do Santo que nunca fui, do Filho que esqueci
Amém todos vós fodem e eu também
não fosse o caso de estar morto e neste momento estaria a comer todas as gajas boas que estão a passear diante do meu caixão e quando as que se debruçam diante de mim com aqueles decotes generosos dá-me cá um tesão que me apetece ressuscitar!