Do meu lado
a sombra
o passado
delirando
eu vi imagens que nunca vivi
as estrelas entrando no meu quarto
um vento que me acariciava o cabelo que já tive
tudo parecia estar no seu devido lugar
não fosse eu estar de olhos fechados
separado da realidade
sei que um dia já fui feliz
mas é apenas uma sombra
tantas lágrimas que derrama o mundo
mas ninguém chora as minhas
tantas cartas escritas para todo o mundo
mas ninguém consegue escrever os meus sentimentos
pouco importa o que fazem lá fora
ninguém sabe o que vivo cá dentro
do meu lado
vejo-me num universo paralelo
mas não tenho a certeza que ele existe
do meu lado sinto-me
mas não consigo abraçar-me
é tão triste
quando queremos fazer uma maquina de dar abraços
só para sabermos como é um abraço genuíno
debaixo deste céu de vasta imensidão
compreendo como sou pequenino
a sombra dissipa-se
vejo claramente que estou sozinho
entre duas realidades distintas
dentro de mim mesmo
fora de um passado que já vivi
e ao qual não posso voltar
pouco me importa o que possam dizer
se estou a chorar como um menino
as lágrimas são minhas
mesmo que as podesse derramar pelos olhos alheios
elas recusar-se-iam a fazer esta transferência
por entre as paredes das ruas que deixaram de existir
faço viagens
recuso-me a desistir
em algum lugar entre os sonhos e o sono
eu tenho que acordar para ver as duas realidades
tenho que agarrar os pedaços do passado
arranca-los do meu peito
e fazer deles mais que um monumento
quero viver tudo outra vez
preciso de sentir tudo outra vez
o presente poderia ser tão belo
o futuro está no lugar onde sempre estará
no amanhâ
mas o passado.....
é a sombra que me cobre
o lençol que me descobre
confinado a sonhos apertados
que precisam de ser libertados
das sombras que os cobrem
para que as mesmas também me deixem.