
Entre árvores de dióspiros
solto uns quantos suspiros
fico a contemplar toda a minha vida passada
nas estações que passaram por mim
esta é a naturalidade de uma escada
que um dia inevitavelmente terá um fim
entre árvores de figos
solto uns quantos suspiros
e lembro até onde a vida me levou
do que fui
quem sou
e invariavelmente chego a mesma conclusão
sou tudo aquilo que me ditou o coração
entre árvores de maçãs
lembro de todas aquelas manhâs
deitado no meu berço
lembranças que não tem preço
Invernos rigorosos
o meu avó a aparelhar os bois
tanto tempo se passou depois......
Entre árvores de tangerinas
suspirei por umas quantas meninas
hoje belas mulheres
pratos partidos
e uns gordurosos talheres
assim se transformaram milhares de pessoas
entre coisas más
nascerem muitas coisas boas
entre árvores de nozes
vi pratos de creme e filhoses
árvores cortadas
enfeitadas
com enfeites toscos
nada de muito fino
os tempos eram outros
afinal era só um menino
por entre árvores de pêras
tantas histórias ficaram para serem contadas
palavras que nunca conheceram a luz do dia
memórias cortadas
limadas por processos naturais
conta-las nunca será de mais
afinal recordar é viver
seja debaixo de que árvore for
existem poucas histórias com tanto amor
como aquele que eu me lembro
da forma como cresci
pobre mas sem saber feliz
por entre árvores que já não existem
mas que viverão sempre que eu me lembrar delas!!