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Naquele bairro pobre
querendo correr e saltar
vitima do sentimento snob
só resta a ansia do revoltar
na mais profunda solidão
no táxi sem motorista
passeando por esta confusão
com aquele ar trocista
de costas para o mundo
carapuço na cabeça para que ninguém me possa ver
invisível
são muitas das dores de crescer
quando tudo parece impossível
o oceano não tem costas
nem porto seguro onde me abrigar
apesar da água ser tão azul
que chega a encantar
mesmo todos aqueles que como eu
já não conseguem nadar
esperam que se abra aquela fenda no céu
onde possam encontrar a consolação
a derradeira ocasião
em que o bairro não é mais pobre
e existe um lugar onde acostar
eclipsou-se o sentimento snob
já posso saltar
para o meio da multidão
embora eles não reparem em mim
são tão fantasmas quanto eu
só assim
eu vejo o que prevaleceu
de entre tantas sensações
sobraram as ilusões
não pertenço a ninguém
sou um corpo estranho nesta história
ainda não fui a Belém
mas não me sinto escória
estou apenas confuso
ninguém me reclama
o mundo está tão difuso
dividido entre pobres e gente com fama
enquanto eu navego nos meus passeios cinzentos
nas ruas sujas de pobreza
contra marés e ventos
ergue-se uma certeza
neste meu bairro pobre
onde ninguém me conhece
estou distante de ser um lorde
e das mordomias que o titulo oferece
vagueio
sem saber sequer o meu nome
ou como cheguei até aqui
não podem ser mais as dores de crescimento
já cresci tudo que tinha de crescer
são as dores do esquecimento
que me fazem sofrer
e enquanto as velas alumiam o meu casebre
vejo tudo aquilo que não fiz
tudo aquilo que não disse
o meu sangue ferve
como poderia ter sido?
Fora do meu bairro pobre
como seriam as manhâs?
O sol brilharia de forma diferente?
Nas macieiras cresceriam mais maçâs?
No meu deserto viveria mais gente?
Alguém se lembraria do meu Nome?
Ou das causas que me fazem tatuar na minha alma
que vivo neste bairro pobre de gente
deserto de sentimentos
e vivo nele todos os momentos
acreditanto que um dia serei mais do que eu!
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