Quartos para estranhos
que deixam de o ser quando se chamam pelo nome
salas de jantar com loiças de cores estrambólicas
com panos castanhos
sem espaço para estranhos
dois amantes ceiam
estudam-se a sobremesa
as horas passam talvez mais depressa do que parece
enquanto aquela inquietude cresce
junto a parede um janela
luz da lua naquele rosto de uma mulher bela
na cozinha a liça amontoa-se
profundezas do descuido
que nenhum dos dois quer saber
o objectivo é estar na companhia de alguém
que também queira viver
em quartos fechados
com espíritos estranhos
com jantares produzidos
e paredes que soltem gemidos
nas sombras da noite
bem pertinho um do outro
mãos entrelaçadas pela emoção
mãos coladas pelo medo
despem-se as roupas dos preconceitos
a noite enche-se de vários efeitos
visuais e não só
é dançando na escuridão que se sente
o toque não mente
acordo de manha na mesma cama que tu
já não somos estranhos
o quarto é-nos familiar
talvez tenha sido o começo de uma viagem
de duas pessoas que gostam de viajar
entrando pelo mundo adentro
não se consegue parar o fogo
quando o fogo não se quer apagar!!